A prefeitura de Balneário Camboriú anunciou a reformulação de um projeto de defesa pessoal, que há cinco anos fazia parte da rotina de centenas de mulheres na cidade, agora renomeado como Luta por Elas. Mas quem são elas? Cerca de 400 mulheres, participantes ativas do projeto, buscaram nossa redação para pedir ajuda. Sim, ajuda. Após tentativas frustradas de serem ouvidas pelas autoridades, elas agora clamam por socorro.
Essas alunas lutam pelo direito de participar das decisões que impactam diretamente suas vidas. O que chamam de “reformulação” resultou não apenas na mudança do nome do projeto, mas também no afastamento do idealizador e professor Felipe Platt, a quem carinhosamente chamam de mestre. Para elas, ele não é apenas um instrutor, mas o pilar central do programa que transformou suas realidades.
Conheça o projeto
Criado em 2019 pelo Guarda Municipal Felipe Platt, faixa preta em karatê há 17 anos, o projeto de defesa pessoal teve início na Casa da Mulher e, ao longo dos anos, consolidou-se como uma ação de relevância social em Balneário Camboriú.
Durante a pandemia, as atividades foram suspensas, sendo retomadas em 16 de janeiro de 2021 na Secretaria de Segurança Pública, onde passou a integrar a estrutura da Guarda Municipal.
No período em que funcionava na antiga sede da Secretaria de Segurança, o treinamento era realizado com estrutura montada pelo próprio GM Felipe, que viabilizou doações e adquiriu equipamentos como luvas e tatames improvisados para garantir a continuidade das aulas. Com a construção da nova sede da Segurança Pública, o espaço de treinamento foi projetado para atender tanto à capacitação dos Guardas Municipais quanto à realização das aulas do projeto.
Em 2023, as atividades passaram a ser realizadas em uma academia estruturada dentro do novo complexo, proporcionando melhores condições para os treinamentos.
Desde sua criação, o projeto já atendeu aproximadamente mil mulheres, sendo que, antes da sua recente interrupção, contava com um público ativo de cerca de 400 participantes.
Ignoradas e silenciadas
A nova gestão da prefeitura interrompeu o projeto prometendo uma reformulação, mas sem consultar as participantes. A mudança trouxe novos professores: dois guardas municipais e profissionais cedidos pela FMEBC, substituindo o idealizador Felipe Platt, o que causou revolta entre as alunas.
Uma das alunas, Dani Cristofolini, tentou dialogar diretamente com a prefeita Juliana Pavan em janeiro, mas até o sábado, 1º de fevereiro, ainda aguardava uma resposta. Em um comentário em uma publicação oficial, ela desabafou sobre o descaso: “Estou aguardando o retorno desde 23/01 da mensagem enviada ao seu WhatsApp, informando que teria uma reunião para discutir questões de segurança e depois entrava em contato. Não foi por falta de procura que viemos a público novamente.”
Diante do silêncio e da falta de respostas, as alunas recorreram às redes sociais, iniciando uma jornada por esclarecimentos. Quando começaram a fazer barulho na internet, a prefeitura divulgou um vídeo afirmando que o projeto não seria encerrado, mas apenas reformulado. No entanto, as alunas inundaram o vídeo com comentários, questionando a saída de Felipe Platt do projeto. Mais uma vez, não foram vistas nem ouvidas pela administração pública.
Confira os comentários:
O grupo também buscou ajuda de representantes legislativos, incluindo o vereador Samir Dawud, que havia recebido o apoio das alunas durante as eleições. Samir chegou a ouvir as participantes na Câmara de Vereadores, mas, em seguida, gravou um vídeo reforçando a narrativa oficial da prefeitura. A atitude foi vista como uma traição. “O pior, o pior é o Samir. Ele esteve na confraternização do projeto antes das eleições, e nós todas confiamos nele para manter o projeto como estava. Estamos desapontadas e nos sentimos traídas com essa postura falsa. Desde o início, ele apoiou o Felipe e agora virou as costas, ainda contando inverdades,” declarou Nátaly, refletindo o sentimento de indignação do grupo.
Grito de socorro das alunas
Ignoradas pela gestão municipal, um grupo de mulheres decidiu agir por conta própria. A primeira tentativa foi um abaixo-assinado pedindo o retorno do instrutor Felipe Platt, que já reuniu 338 assinaturas. Confira o abaixo-assinado:
Sem respostas, as alunas decidiram recorrer à imprensa para que suas vozes fossem finalmente ouvidas. O que para a prefeitura é apenas uma reformulação, para elas é o desmonte de um projeto que salvou vidas.
Elas afirmam que o projeto não era apenas sobre técnicas de defesa pessoal, mas sobre segurança, acolhimento e superação. Muitas chegaram ali fragilizadas por traumas e encontraram um espaço onde podiam se fortalecer. Agora, dizem estar sendo desconsideradas por uma gestão que sequer se deu ao trabalho de ouvi-las.
A seguir, os relatos de algumas alunas que encontraram no projeto um refúgio – e que agora lutam para que ele continue com quem realmente fez a diferença:
Nátaly: Entrou para o projeto em julho de 2022, em um momento delicado da sua vida, lutando contra a depressão e buscando apoio no CAPS. Encontrou nas aulas de defesa pessoal um refúgio, onde o professor Felipe Platt não apenas a ensinava a se defender, mas também a encorajava a continuar, sempre respeitando seu tempo e suas dificuldades. “Ele nunca cobrava, só incentivava. Sabia exatamente como nos acolher”, relembra.
Agora, Nátaly se sente traída pela reformulação imposta sem diálogo. “Fomos completamente ignoradas. Ninguém nos ouviu antes de tomarem essa decisão.” Ela também critica a omissão da prefeitura e a postura de vereadores que prometeram apoio, mas se calaram. “Isso não é só sobre ele, é sobre 388 mulheres que foram ignoradas.” Desiludida, diz que não voltará ao projeto. “Não é só a troca de instrutor, é a injustiça com quem construiu tudo isso ao nosso lado.”
Marcela Balduino: Entrou no projeto em 2020, em meio a um quadro de depressão, e encontrou nas aulas de defesa pessoal não apenas um aprendizado técnico, mas também um ambiente acolhedor. “O Felipe nos ensinava muito além da luta. Ele nos ouvia, aconselhava e estava ali para cada uma de nós,” relembra. Após um período afastada, retornou em 2023, aproveitando os treinos aos sábados, até ser surpreendida pela reformulação imposta pela prefeitura.
Agora, sente-se desrespeitada e ignorada. “Precisava haver regularização e ampliação? Sim. Mas ninguém nos ouviu. Em vez de melhorar, encerraram um projeto consolidado, apagaram a história dele e impuseram outro no lugar.” A mudança de nome para “Luta por Elas” soa irônica para Marcela. “Quem são ‘elas’, se nós, mulheres que construímos esse projeto, fomos silenciadas?” A maior frustração, segundo ela, é ver que a prefeitura sequer mencionou o nome do instrutor. “Tiraram o Felipe como se ele nunca tivesse existido. Querem institucionalizar? Ótimo. Mas onde está o reconhecimento? Onde está a nossa voz?”
Dani Cristofolini: Iniciou no projeto em 2019, quando os treinos ainda aconteciam na Casa da Mulher e do Voluntariado. Buscava uma atividade física diferente e encontrou não apenas isso, mas um ambiente seguro, conduzido com dedicação pelo professor Felipe Platt. “Ele sempre buscou melhorar o projeto, garantindo materiais e ampliando as aulas para atender mais mulheres”, relembra.
Com a mudança para a sede da Secretaria de Segurança, o projeto cresceu e passou a acolher muitas mulheres com histórico de agressão e medidas protetivas. A visibilidade rendeu a Felipe duas moções de aplauso na Câmara de Vereadores, ambas com o voto da então vereadora e atual prefeita, Juliana Pavan.
Agora, Dani se revolta ao ver o projeto reformulado sem que as alunas fossem ouvidas. “Querem institucionalizar? Ótimo. Mas por que excluir o professor que construiu tudo isso? Nunca nos explicaram o motivo da saída dele.” Para ela, a situação tem claro viés político. “A prefeita, sendo mulher, deveria defender a voz das mulheres, mas simplesmente ignorou nossas reivindicações.” A indignação só cresce com a redução da carga horária e a tentativa de atribuir o sucesso do projeto a novos “padrinhos”. “O projeto funcionava porque tinha quem lutava por ele. E agora querem apagar essa história sem sequer mencionar o nome do Felipe.”
Isa Picoloto: Começou no projeto em 2023 e, desde a primeira aula, sentiu que ali era um espaço seguro. “O professor Felipe nos ensinava muito, e para mim, como tantas outras mulheres, aprender a me defender era algo essencial. Eu tinha medo de sair sozinha, mas no projeto fui ganhando confiança”, conta.
Isa estava animada para retomar os treinos neste ano, mas foi surpreendida pela suspensão das aulas, sem explicações claras. “Nos prometeram melhorias, mas na verdade reduziram os horários e tiraram o professor que construiu tudo isso. Como isso pode ser uma melhoria?” Revoltada, ela destaca que a prefeitura simplesmente ignorou as alunas. “Não respondem, não nos ouvem. Pegaram um projeto pronto e agora tentam apagá-lo, descartando quem realmente fez a diferença.”
Para Isa, a motivação da mudança é clara. “Isso é política. Mas nós não queremos saber de política, queremos o projeto como ele sempre foi. Se o Felipe não continuar, eu também não volto.”
Linne Evangelista: Após anos separada, Linne passou a ser perseguida pelo ex-marido e precisou recorrer à Justiça para obter uma medida protetiva. Foi então que uma conhecida a indicou para o projeto de defesa pessoal. Em março, entrou em contato com Felipe Platt pelo Instagram e, logo, foi acolhida no grupo de treinos.
A experiência transformou sua vida. “Antes, eu andava assustada na rua, sempre com medo. Nos treinos, o Felipe me ensinou pacientemente, respeitando minhas limitações e me incentivando a continuar.” Para ela, os treinos não eram apenas sobre defesa, mas um espaço de acolhimento. “Mesmo quando ficava um tempo sem ir, sempre era bem recebida, como se nunca tivesse parado.”
Agora, Linne sente que a retirada de Felipe é um desrespeito com tudo o que ele construiu. “Ele manteve o projeto por quatro anos com dedicação e amor, e agora simplesmente o excluem, mudam o nome e os horários, sem ouvir as alunas. Não penso em continuar com outro instrutor. Só queremos nosso professor de volta.”
Cecília Junkes Nagel: Cecília ingressou no projeto em junho de 2024, buscando uma atividade física diferente. Apesar de nunca ter sido vítima de violência, encontrou no grupo um espaço seguro e acolhedor. “Aprendi a me defender e a fortalecer minha confiança, tudo graças à dedicação do professor Felipe.”
Ela destaca o compromisso do instrutor, que ministrava aulas em diferentes horários para atender o máximo de alunas. “Ele estava lá de manhã, à noite e até aos sábados, sempre disposto a ensinar.” Agora, sente que o projeto perdeu sua essência com a retirada de Felipe. “Ele foi o idealizador e deu tudo de si para que isso desse certo. Se ele não voltar, eu não continuarei.”
Andressa da Costa: No início de 2024, Andressa foi incentivada por uma prima a ingressar no projeto, pouco depois de sair de um relacionamento abusivo. “O projeto me ajudou a me reerguer, a recuperar minha autoestima”, conta. Para ela, Felipe Platt sempre foi mais do que um instrutor. “Ele nos incentivava, mostrava que somos mais fortes do que imaginamos.”
Agora, Andressa não entende por que a nova gestão o retirou sem sequer mencionar seu nome. “Ele criou esse projeto em homenagem à mãe dele. O projeto continua na Guarda Municipal, então por que não permitir que ele siga junto com outros instrutores? Isso não faz sentido e é uma grande injustiça.”
Rose Telles: Após um parto complicado que a deixou sem conseguir caminhar por 45 dias e uma depressão agravada pela traição do marido, Rose encontrou no projeto de defesa pessoal um refúgio para reconstruir sua autoestima. “Foi uma mulher do grupo que me falou sobre o Felipe, e desde a minha primeira aula, minha vida começou a mudar.”
Ela lembra do comprometimento do instrutor, que sempre comparecia, independentemente do número de alunas. “Mesmo que fosse só eu e mais uma, ele estava lá, com o mesmo sorriso e paciência.” Para Rose, a retirada de Felipe é uma injustiça absurda. “O que a prefeita e essa administração fizeram com ele é desumano. Jamais voltarei ao projeto nessas condições. Prefiro pagar por aulas do que participar dessa sujeira.”
Sâmia Reda: Para Sâmia, a presença do professor Felipe era fundamental para que as mulheres se sentissem seguras e acolhidas no projeto. “Ele sempre nos tratou com respeito e carinho, cada aula era conduzida com uma dedicação sem igual.”
Ela destaca que o projeto nasceu da história pessoal do instrutor, que cresceu vendo sua mãe ser vítima de violência doméstica e decidiu transformar essa dor em uma iniciativa que ajudasse outras mulheres. “Sem ele, as aulas perdem o brilho e o verdadeiro propósito.”
Antes merecia homenagem, agora será penalizado?
Por anos, o Projeto de Defesa Pessoal Feminina recebeu apoio da prefeitura, que não apenas o divulgava como também investiu na academia da sede da Secretaria de Segurança Pública, onde as aulas eram realizadas. O reconhecimento ao trabalho do idealizador, Guarda Municipal Felipe Platt, veio em forma de homenagens oficiais, concedidas por políticos da cidade.
Entre esses políticos estavam a atual prefeita Juliana Pavan e o vice-prefeito Nilson Probst, que, quando eram vereadores, apoiaram e votaram a favor das moções de reconhecimento ao trabalho de Platt.
📌 A primeira moção, de aplauso, foi proposta pelo vereador Anderson Santos (PL) e teve voto favorável de Juliana Pavan, então vereadora. A homenagem reconhecia a importância do projeto para a segurança das mulheres da cidade.
📌 A segunda moção, de congratulações, foi apresentada pela vereadora Danielle Eloisa Serpa (PSD) e contou com o apoio de Nilson Probst, que, na época, também ocupava uma cadeira na Câmara Municipal.
Diante disso, as alunas questionam a mudança repentina de postura da atual gestão. Inicialmente, a prefeitura alegou que a reformulação do projeto era necessária para torná-lo institucional. No entanto, após a mobilização das alunas e a pressão pública, a narrativa mudou e a prefeitura passou a acusar Felipe Platt de improbidade administrativa, alegando desvio de função.
A principal dúvida das alunas é: por que, até 2024, o projeto era motivo de reconhecimento e homenagens, e agora, em 2025, seu idealizador passou a ser alvo de acusações? Se havia irregularidades, por que, quando eram vereadores, a prefeita e o vice-prefeito não questionaram o funcionamento do projeto e ainda aprovaram as moções em sua homenagem?
Após a repercussão do caso na imprensa local, que trouxe à tona o descontentamento das alunas e a manifestação favorável do vereador Mazinho Miranda ao grupo de mulheres, a Prefeitura de Balneário Camboriú iniciou uma série de publicações para contestar as alegações sobre a reformulação do projeto. O posicionamento oficial incluiu ataques indiretos às reivindicações das participantes e críticas à atuação do Guarda Municipal Felipe Platt, idealizador do projeto.
Em nota assinada pelo Secretário de Segurança, Evaldo Hoffmann, a gestão classificou como fake news as denúncias feitas pelas alunas e questionou a veracidade das informações divulgadas sobre o impacto da reformulação.
A nota ainda afirma que Platt, que ocupava o cargo de Supervisor de Rua na Guarda Municipal, estaria em desvio de função, pois atuava como instrutor de defesa pessoal em vez de exercer a fiscalização nas ruas. No entanto, informações levantadas indicam que ele exercia a função de Supervisor de Defesa Pessoal, sendo responsável tanto pelo treinamento de Guardas Municipais quanto pelas aulas do projeto voltado às mulheres.
Além disso, a Prefeitura acusa Platt de improbidade administrativa, alegando que ele recebeu indevidamente pagamentos de horas extras. Entretanto, até o momento, não há registro de processo administrativo instaurado para apurar a denúncia, o que levanta questionamentos sobre a fundamentação das alegações.
Em um grupo de política municipal no WhatsApp, Senadinho, o secretário de Segurança, Evaldo Hoffmann, afirmou que Felipe Platt deverá “devolver todas as horas extras e gratificações que recebeu indevidamente” e anunciou a abertura de um processo administrativo para apurar os valores. Evaldo apagou o comentário em menos de um minuto.

Na nota oficial divulgada pela prefeitura, Hoffmann também informou que os novos instrutores do projeto serão dois guardas municipais e um agente de trânsito, todos cadastrados como voluntários. No entanto, os nomes desses servidores públicos não foram divulgados. A reportagem apurou que um dos guardas é faixa preta em judô e o outro é faixa azul em jiu-jitsu, sendo que, para ministrar aulas dessa modalidade, a exigência técnica mínima é a graduação de faixa preta. Já a formação e qualificação do agente de trânsito para atuar como instrutor de defesa pessoal não foram informadas.
Outro ponto levantado na nota da prefeitura é a alegação de que Felipe Platt teria tido a oportunidade de se inscrever como instrutor voluntário, o que garantiria sua permanência no projeto. No entanto, essa versão é contestada pelas alunas, que afirmam que Platt manifestou interesse em continuar à frente das aulas, mesmo sem remuneração, mas que foi afastado sem consulta ou diálogo.
A nota ainda informa que o novo projeto Luta por Elas, amplamente divulgado pela administração municipal, conta com 220 inscrições. O número é significativamente menor do que as aproximadamente 400 participantes da iniciativa anterior. Mesmo após ter divulgado o projeto como uma reformulação do projeto de Felipe, agora, a prefeitura afirma através da nota do Secretário de Segurança, que não tomou o projeto idealizado por Felipe Platt, mas criou um novo programa institucionalizado. O trecho da nota destaca: “De maneira alguma tomamos o projeto anterior deste guarda municipal, mas sim, criamos um novo programa, de maneira institucional, a fim de atender na área de defesa pessoal todas as mulheres interessadas de Balneário Camboriú.”
Foco na desqualificação do instrutor e silenciamento das mulheres
Além da nota oficial, o secretário de Segurança, Evaldo Hoffmann, divulgou um vídeo em colaboração com o diretor de Cultura de Balneário Camboriú, Edvaldo Alves Rocha Junior, conhecido como Ed Jr. No vídeo, Edvaldo declara: “Não era um projeto oficial da Guarda, e sim um projeto pessoal de um guarda municipal, que, aliás, de professor, não tinha nada.” A afirmação ignora completamente os relatos das alunas, que encontraram no projeto um espaço de acolhimento e segurança, e desconsidera o vínculo de confiança construído com o instrutor ao longo dos anos.
Outro trecho do vídeo afirma: “Esse guarda municipal deveria estar trabalhando na rua, protegendo a cidade. Mas, na prática, estava ganhando mais de R$ 14 mil para dar aula.” A fala contradiz a própria justificativa da prefeitura ao reformular o projeto, quando Hoffmann declarou: “Sabemos hoje que nossa região tem altos índices de violência contra a mulher, e a Guarda Municipal fará a sua parte no combate a estes números, através do Programa Luta Por Elas.”
Em nenhum momento o vídeo discute o impacto do projeto na vida das alunas, o abaixo-assinado que reuniu centenas de assinaturas ou os comentários nas redes sociais pedindo respostas. As reivindicações das mulheres foram completamente ignoradas. O foco central da gravação não é o projeto ou a reformulação, mas a tentativa de desqualificar Felipe Platt — o mesmo instrutor que, até recentemente, era homenageado pelos políticos que agora o acusam de irregularidades.
Silêncio da prefeita será quebrado?
Nas redes sociais, a prefeitura mantém o discurso de que Felipe Platt será penalizado e que o novo projeto não tem relação com o anterior. Nos bastidores, porém, o cenário é diferente. Após a grande repercussão do caso na imprensa, a prefeita Juliana Pavan começou a entrar em contato com algumas alunas do projeto original, convidando-as para uma reunião na manhã de terça-feira.
O grupo de mulheres que por diversas vezes já foi silenciado, ignorado e desacreditado agora vê uma chance de ser ouvido. Mais do que uma questão de defesa pessoal, elas querem que a prefeita entenda o impacto real do projeto em suas vidas. São cerca de 400 mulheres que encontraram ali um espaço seguro para superar desafios como relacionamentos abusivos, transtornos psicológicos e emocionais. Para muitas delas, Felipe Platt não era apenas um instrutor, mas um porto seguro, alguém que as ajudou a recuperar a autoestima e a enfrentar suas lutas diárias.
Além da permanência do instrutor, as alunas pedem que as acusações contra ele sejam investigadas com transparência, pois acreditam que ele está sendo alvo de ataques injustos.
“Muito triste tudo isso, um tanto de mentiras. O Felipe não merece isso que estão fazendo com ele”, afirmou Isa Picoloto. “Que circo, desde 2019 autorizado a fazer o projeto, ninguém mais se interessou e agora sai como vilão”, disse Nátaly.
Agora, a expectativa é se a prefeita Juliana Pavan ouvirá de fato as alunas e reconsiderará as decisões tomadas ou se essa reunião será apenas um gesto político para tentar conter a crise.