No palco trágico das enchentes em Santa Catarina, uma declaração polêmica choca o estado e ecoa com contornos de escândalo nacional. Enquanto Taió, uma cidade irmã, é brutalmente engolida pelas águas, e seu prefeito, em desespero, implora por ação, Blumenau está em pleno clima festivo. E o maestro deste cenário bizarro é Mario Hildebrandt, o prefeito de Blumenau.
Desprezando o desespero evidente de Taió, Hildebrandt ousa trazer à tona a economia como desculpa: “E eu lamento muito pelo que estão passando, mas não posso ignorar 6 mil pessoas que dependem da Oktoberfest para seu sustento.” A Oktoberfest, ícone de celebração e alegria, contrasta com a triste realidade de Taió. Mas será que é mesmo justificável colocar a festa acima das vidas?
Os argumentos de Hildebrandt não param por aí. Em uma tentativa de comparação chocante, ele se refere à tragédia que Blumenau sofreu em 2008, questionando a solidariedade dos outros: “Em 2008 quando Blumenau teve centenas de mortos e mais de 6 mil desabrigados pela enchente você parou sua vida por solidariedade? Não né!” Será que esta é realmente a hora de evocar competições de sofrimento?
A realidade é que, enquanto Hildebrandt destila argumentos centrados na economia e no passado, Taió está se afogando no presente. A questão que fica é: até que ponto a defesa da economia de uma cidade justifica a negligência com a tragédia de outra? E mais: será que a empatia e solidariedade só existem quando são convenientes?
O prefeito de Blumenau tenta equilibrar sua defesa mencionando uma campanha de arrecadação dentro da própria Oktoberfest. Uma atitude louvável? Ou apenas uma tentativa de aplacar as críticas e limpar a imagem manchada?
Estamos diante de um dilema que transcende a mera política. É uma questão de humanidade. Em meio a uma das piores crises de enchentes, enquanto uns buscam sobrevivência, outros dançam. E a música que embala esta dança, infelizmente, é a do descaso.