Nesta quarta-feira, 10 de abril, a administração de Juliana Pavan completou 100 dias à frente da Prefeitura de Balneário Camboriú. O marco, tradicionalmente simbólico, costuma ser observado por analistas e pela própria sociedade como uma espécie de termômetro inicial da nova gestão. Os primeiros meses de governo revelaram uma estrutura ainda em fase de acomodação, com acertos e erros visíveis, além de uma comunicação intensa — por vezes mais voltada à narrativa do que à resolução de problemas práticos.
Equívocos em nomeações
Logo nos primeiros dias, um volume expressivo de portarias de nomeação precisou ser corrigido por erros técnicos. Algumas foram republicadas com alterações de datas e cargos; outras, com efeitos retroativos. Esse início atrapalhado gerou desconforto entre servidores e apontou para uma transição mais turbulenta do que o esperado. Ainda assim, a gestão seguiu estruturando seu time e promovendo mudanças no organograma da prefeitura.
Comunicação e foco na imagem
Entre as principais alterações, está a criação da Secretaria de Comunicação, que substituiu a antiga Divisão de Comunicação. A mudança trouxe consigo um reajuste salarial considerável para o cargo de comando, de R$ 8 mil para R$ 12 mil. A jornalista Dagmara Spautz, com trajetória em veículos como NSC e Diarinho e experiência em cobertura política, foi convidada para assumir a nova pasta. A escolha reforçou a intenção do governo de profissionalizar a comunicação institucional, mas também gerou críticas quanto à prioridade da medida frente a outras demandas administrativas.
Vídeos acusatórios e polêmicos
Janeiro também foi marcado pelo primeiro embate público entre Juliana Pavan e o ex-prefeito Fabrício Oliveira. Em vídeo publicado nas redes sociais, a prefeita denunciou o que classificou como abandono de equipamentos médicos no Hospital Ruth Cardoso. Ela criticou a falta de inventário e a forma como os materiais estavam armazenados. Poucas horas depois, Fabrício rebateu, afirmando que os itens eram obsoletos e já haviam sido oficialmente destinados ao descarte, inclusive com registro durante a transição de governo. O episódio demonstrou o tom que parte da gestão adotaria em sua comunicação: de confronto com o legado anterior.
Chuva x mídia
Outro ponto de destaque nos primeiros cem dias foi a condução da prefeitura durante a forte chuva que atingiu Balneário Camboriú em janeiro. A prefeita decretou situação de emergência, mas o pedido oficial de ajuda ao governo estadual só foi protocolado no dia seguinte. Ainda assim, a resposta do Estado foi rápida: os materiais emergenciais chegaram em menos de 24 horas. Juliana, no entanto, manteve o discurso de desamparo e buscou apoio fora da esfera estadual. O prefeito de Chapecó, João Rodrigues, do mesmo partido de Juliana, enviou maquinário pesado para ajudar nas ações. O gesto, que ganhou ampla divulgação, foi interpretado por muitos como movimento político com vistas à eleição estadual de 2026 — especialmente diante da presença conjunta de Juliana, seu pai Leonel Pavan (prefeito de Camboriú) e Rodrigues nos vídeos promocionais.
Apesar da gravidade da chuva, os dados oficiais não indicavam um cenário de colapso. Até o fim daquele fim de semana, Balneário Camboriú abrigava apenas duas pessoas desalojadas, de uma mesma família. Ainda assim, o tom de urgência permaneceu, alimentando a narrativa de abandono por parte do governo estadual. A estratégia de comunicação foi eficaz em mobilizar a base política da prefeita, mas também gerou críticas de oportunismo e exagero.
Causa animal atingida
Desde 1º de janeiro, os chamados de resgate animal deixaram de ser atendidos pelo 153. A mudança, que faz parte de uma reestruturação da Guarda Municipal, causou surpresa entre protetores, que relataram falta de aviso prévio e desorganização no atendimento. No fim de janeiro, a ONG notificou a Prefeitura sobre a suspensão de novos acolhimentos por superlotação e falta de recursos. No dia 9 de fevereiro, dois pitbulls resgatados pela Guarda Municipal não puderam ser acolhidos pela Viva Bicho por falta de espaço. Sem alternativa da Prefeitura, os animais ficaram presos em gaiolas na sede da Secretaria de Segurança Pública. Diante da crise, um grupo de seis vereadores se reuniu com a direção da ONG no dia 13 de fevereiro. Eles pediram providências urgentes da Prefeitura para evitar o colapso do serviço prestado pela entidade. A ONG também denunciou a interrupção da coleta de resíduos no abrigo, mesmo após seguir os protocolos de descarte acordados com a Prefeitura. A suspensão durou quatro dias e afetou diretamente as condições sanitárias do local.
Diárias pagas durante contenção de gastos
Menos de uma semana após assinar um decreto que proibia o pagamento de diárias para servidores, a prefeita Juliana Pavan viajou a Brasília com três integrantes do governo, com despesas custeadas pela prefeitura. A comitiva participou de um encontro promovido pelo Governo Federal entre os dias 10 e 14 de fevereiro, somando mais de R$ 19 mil em diárias.
Aumento do IPTU e ampliação da máquina pública
Em fevereiro, a Câmara aprovou, em regime de urgência, um pacote de projetos enviado pela prefeita Juliana Pavan que incluiu o aumento do IPTU, por meio da atualização da Planta Genérica de Valores, e a criação de um novo Código Tributário. A proposta gerou críticas por não apresentar simulações de impacto e por atingir duramente bairros populares. A reforma administrativa também foi aprovada, com extinção de algumas pastas e criação de outras, mas sem consenso sobre economia real, já que o novo cálculo apontou aumento de gastos. Após críticas, o vereador Naifer foi a publico afirmar que a prefeitura apagou um vídeo oficial que negava o reajuste do IPTU.
Luta das mulheres
A reformulação do projeto de defesa pessoal para mulheres em Balneário Camboriú gerou protestos. O guarda municipal Felipe Platt, idealizador e instrutor desde 2019, foi afastado sem consulta às participantes. As alunas alegaram silenciamento e desmonte do projeto. A prefeitura alegou desvio de função e apura possível improbidade administrativa. Após pressão, autorizou o retorno de Platt como voluntário. Ainda assim, o grupo segue cobrando respeito, diálogo e reconhecimento pela história construída.
Saúde de BC sob investigação do Ministério Público
Dois casos envolvendo a saúde em Balneário Camboriú foram parar no MP: possíveis conflitos de interesse em convênios de estágio no Hospital Ruth Cardoso e suspeitas de irregularidades na contratação de serviços de radiologia na UPA das Nações. A Prefeitura foi notificada a prestar esclarecimentos. As apurações estão em andamento.
Informação falsa sobre balneabilidade
Em março de 2025, a Prefeitura de Balneário Camboriú divulgou que a Praia Central estava 100% própria para banho pela primeira vez desde 2022. A informação é falsa. Relatórios do IMA mostram que em pelo menos dez datas de 2024 a praia já havia registrado balneabilidade total. A divulgação enganosa foi replicada por diversos portais sem checagem.
Prefeita propõe mudança de nomes de vias e do prédio da Prefeitura
A prefeita Juliana Pavan enviou à Câmara de Vereadores um projeto para renomear a sede da Prefeitura e duas avenidas de Balneário Camboriú. A proposta prevê que o prédio administrativo passe a se chamar “Paço Municipal Prefeito Aldo Novaes”, a Avenida das Flores seja renomeada como “Avenida Dona Amélia Cherem Pio” e a futura Avenida Ecoparque receba o nome de “Avenida Prefeito Meirinho”. A iniciativa gerou críticas por não ser considerada prioridade e por possíveis transtornos burocráticos à população.
Vídeo polêmico com moradores de rua
em situação de rua, durante ação da operação “Resgate a Vida BC”. Enquanto o vídeo viralizou nas redes, comerciantes da região da rodoviária relatam aumento da insegurança e da presença de moradores de rua. O Ministério Público cobrou explicações e alertou para a falta de políticas estruturadas. Vereadores também reagiram, apontando que o vídeo não reflete a realidade enfrentada nas ruas da cidade.
Justiça suspende licitação de R$ 9 milhões
A Justiça suspendeu uma licitação da Prefeitura de Balneário Camboriú para serviços de publicidade, estimada em R$ 9 milhões. A decisão atende a denúncia de possíveis irregularidades na composição da comissão avaliadora e suspeitas de favorecimento. O processo já havia sido anulado em 2023 e retomado em 2025. A Prefeitura obteve luz verde para prosseguir, mas a licitação foi suspensa outra vez no 99º dia do governo.
Exoneração de Kauan Quadros
O artista e suplente de vereador Kauan Quadros foi exonerado da Prefeitura de Balneário Camboriú após passar por quatro cargos em dois meses. Ele denuncia perseguição política e censura por parte do chefe da Casa Civil, Leandro “Índio”, após críticas à gestão cultural e à secretária de Comunicação. Kauan registrou boletim de ocorrência, alegando intimidação e retaliação por comentários em redes sociais. A Prefeitura alega conduta inadequada e abriu processo administrativo. Em apoio a Kauan, a deputada Ana Campagnolo acusou a gestão de hipocrisia e perseguição a minorias. O artista afirma temer por sua segurança e diz estar emocionalmente abalado.
Vereador cobra eficiência da EMASA
O vereador Naifer Neri (NOVO) denunciou a queda da eficiência no tratamento de esgoto da EMASA, de 61% em dezembro para 34% em janeiro, e classificou o cenário como a maior crise sanitária de Balneário Camboriú. Ele acusou a autarquia de virar “cabide de empregos”, com nomeações políticas e sem critério técnico. Também criticou a escolha de um gerente sem qualificação e cobrou mudanças urgentes e mais transparência na gestão.
Trava nos alvarás afeta 4 mil empresas em Balneário Camboriú
Cerca de 4 mil alvarás seguiram represados na Secretaria da Fazenda de Balneário Camboriú. Empresários e contadores denunciam lentidão, desorganização e falhas no sistema. Apesar de força-tarefa anunciada pela prefeitura, processos seguem travados e empresas ficam vulneráveis a multas. Naifer Neri (Novo) criticou a “Semana da Mulher Empreendedora” realizada pela Prefeitura, apontando que cerca de 4 mil alvarás seguem atrasados na Secretaria da Fazenda — maioria de empresárias. Segundo ele, a burocracia impede o real acesso ao empreendedorismo, inclusive afetando sua própria esposa.
EMASA rompe acordo com rizicultores e é acusada de manobra para desvalorizar terras
A EMASA suspendeu pagamentos a rizicultores de Camboriú, alegando descumprimento contratual por plantio fora do período. A advogada Micheli Simas contesta: o contrato limita apenas a captação de água, não o cultivo. Ela acusa a autarquia de usar imagens de drone fora do prazo de vistoria e afirma que a medida visa desvalorizar as terras para facilitar a criação do Parque Inundável.
Para os produtores, a nova gestão desmonta um modelo de cooperação que por anos garantiu o abastecimento urbano e a sobrevivência agrícola.
Rosan deixa Lar dos Idosos e acusa secretário de ilegalidades
Rosan da Rocha renunciou à administração voluntária do Lar dos Idosos de Balneário Camboriú após denunciar ingerência política e irregularidades sob a gestão do secretário Claudir Maciel. Ele criticou nomeações sem preparo e falta de prestação de contas da prefeitura.
Claudir reagiu, acusando Rosan de tentar acesso indevido a senhas e gerir o Lar sem cargo oficial. Rosan nega e promete acionar a Justiça por difamação.
BC e Camboriú ignoram decoração de páscoa
Itapema atrai turistas com um ovo gigante de LED e programação gratuita, enquanto Balneário Camboriú e Camboriú optaram por não decorar espaços públicos. A ausência de ambientação gerou críticas, marcando a perda de protagonismo das cidades vizinhas no feriado.
Contratos emergenciais
A Prefeitura de Balneário Camboriú firmou dois contratos por dispensa de licitação: um de R$ 2,8 milhões com nova gestora do Pronto Socorro do Ruth Cardoso, já notificada por falhas dias após assumir; e outro de R$ 6,2 milhões com empresa que substitui a antiga operadora do transporte público. Ambos geraram críticas pela execução e falta de planejamento.