Balneário Camboriú está sendo palco de um escândalo de denúncias de assédio sexual por parte do fotógrafo J.M. e de venda de fotografia das crianças, adolescentes e jovens que fotografou. Além de fotógrafo, ele também é agênciador de modelos, coordenador de misses e misteres na região, jurado de concursos de beleza e proprietário de uma agência de modelos em Balneário Camboriú.
Na sexta-feira, 25, uma vítima de 15 anos resolveu registrar um boletim de ocorrência, sobre um abuso sexual sofrido em novembro de 2020, onde J.M. teria entrado no carro no momento em que ela trocava de roupa e passado a mão em sua coxa até a virilha, falando que seu olhar era muito sensual. A menina resolveu denunciar após descobrir que suas fotos e de outra modelos estavam sendo vendidas em um site propositalmente bloqueado no Brasil.
Quando ela chegou na delegacia, foi informada pela Polícia Civil de que já haviam cerca de 20 boletins de ocorrências contra o fotógrafo. De lá pra cá, o caso ganhou força nas mídias sociais e pelo menos sete novos boletins foram registrados.
O relato mais antigo que Camboriú News obteve, é de um fato ocorrido há 29 anos. A vítima sofreu calada por praticamente três décadas, desenvolveu síndrome do pânico, depressão e tentou suicídio. Apesar do crime ter prescrevido, a mulher, hoje com 41 anos, teve coragem de registrar o boletim de ocorrência e contar o que passou na mão de J.M.
A vítima conta que tinha 12 anos em 1993, quando veio morar em Balneário Camboriú. Ela recebeu um folheto do J.M. na escola onde estudava e procurou a agência pois tinha o sonho de ser modelo. Segundo ela, no início as sessões de fotos foram realizadas na praia de biquni e o fotógrafo sempre pedia fotos sensuais alegando que ela precisava fazer isso para sem modelo. Ela conta que realmente acreditava que aquilo fosse normal.
Após dois meses na agência, o fotógrafo levou ela para o estúdio e lá pediu para colocar uma minisaia e um cropped, enconstou-a na parede e falou que ela não tinha rosto comercial e sensual, então faria algumas coisas para ajudá-la com isso. J.M. encostou a pré-adolescente na parede, mandou levantar as mãos e começou a tocar nela. A vítima conta que congelou, e nesse momento ele colocou a calcinha dela para o lado e começou a mexer nas partes íntimas dela e deu um beijo no pescoço, proferindo palavras de cunho sexual. Quando foi tentar beijar a boca da menina, ela começou a chorar. Foi então que o fotógrafo colocou a jovem sentada em um banco e começou a falar que não era para ela ficar assustada, que ele era amigo dela e que iria ajudá-la.
Segudo a vítima, J.M. sabia da condição financeira precária de sua familia e se aproveitou disso, dizendo que iria ajudá-la a chegar à fama para ajudar a familia, mas que para isso ela não poderia contar nada para sua mãe. Ela conta que foi embora e nunca mais voltou, e que só teve coragem de contar para sua mãe aos seus 28 anos de idade, 16 anos após o ocorrido.
Vinte e quatro anos depois, outro boletim de ocorrência foi registrado com um relato muito parecido. Em 2017, uma modelo que na época tinha 17 anos, conta que em uma segunda-feira de manhã estava sozinha com o fotógrafo em curso preparatório de modelo, quando no final do curso o autor se aproximou e pediu se poderia tocar em seu rosto para ensinar a fazer caras e bocas. A adolescente consentiu, foi quando J.M. começou a passar a mão em seu rosto e em seu corpo, ergueu a saia do vestido e a obrigou a deitar no chão. Após, empurrou sua calcinha para o lado e praticou sexo oral, penetrando também o dedo na vagina da vítima. A menina pediu para o fotógrafo parar, e ele só parou na segunda vez que ela pediu. Nesse momento J.M. pediu para que ela virasse de bruços, fez carinhos e disse “obrigado pela confiança e não conte para ninguém”. A vítima conta que entrou em estado de choque, ficou muda e não conseguia falar. Os pais ficaram assustados questionando o que aconteceu, e ela conseguiu contar para eles na terça-feira à noite. Eles foram para delegacia e fizeram o boletim de ocorrência.
Além dos casos registrados em boletins de ocorrência, existem diversos relatos semelhantes, de meninas e mulheres que narram o mesmo padrão de atuação do homem. As vítimas contam que foram chamadas por J.M. em seus perfis nas redes sociais para fazer fotos, e que ele não nunca cobrou pelos ensaios, sendo que na maioria das vezes deu dinheiro e presentes para as meninas tirarem as fotos. As modelos contam que os primeiros ensaios foram feitos na Praia, na Barra Sul, onde ocorre tudo de forma “normal”, e que após o homem ganhar a confiança da modelo e da familia, ele convidou elas para irem até seu estúdio. Em todos os relatos as vítimas afirmam que ninguém podia acompanhar as modelos na sessão de fotos no estúdio, que ele mandava elas não usarem roupas íntimas, e que pedia para elas usarem roupas transparentes, curtas e apertadas. Em inúmeros relatos os abusos aconteciam nesse nesse estúdio.
É o caso de uma moça que registrou o boletim de ocorrência de um fato que ocorreu em 2017, quando ela tinha 19 anos. Ela conta que procurou o J.M. para fazer fotos, pois queria concorrer para Miss. Ele chamou ela até o estúdio dele, onde foi acompanhada da irmã. Ela relata que ele visivelmente não gostou dela ter ido acompanhada e deixou bem claro que das próximas vezes ela teria que ir sozinha.
No dia do teste, que segundo ele servia para ver se a candidata tinha perfil para ser modelo, ela conta que J.M. começou a falar certas coisas. “Ele começou a falar que eu tinha muito perfil para modelo e ia crescer muito nessa área, mas eu teria que ceder muitas coisas, pois não era uma vida fácil, e se eu seguisse tudo da forma correta eu não chegaria a lugar nenhum, até porque eu já tinha uma certa idade. Eu ficava quieta e só concordava. Até que ele começou a reclamar que eu não sabia fazer carão de mulher sexy, e que eu tinha a expressão muita séria. Ele largou a câmera e disse que tinha me ensinar a fazer o carão das modelos, pediu para eu encostar na parede, fechar os olhos e imaginar cenas excitantes, e tentar soltar os lábios aos poucos, para fazer o famoso carão. Depois se aproximou de mim a ponto de quase dar um beijo. Era possível sentir sua respiração. Eu permaneci imóvel e com muito medo. Foi então onde ele começou a tocar nas minhas partes íntimas. Eu sai imediatamente, e ele falou que eu estava indo bem e que tínhamos que fazer mais fotos. Finalizei as fotos com medo de que ele não me deixasse ir embora. Sai de lá enojada e jurando que nunca mais voltaria”, desabafa a vítima.
A moça conta que não queria desistir do seu sonho de ser modelo pois algumas conhecidas dela estavam crescendo na carreira, e já tinham passado por esse agenciador/fotógrafo. Ela relata que J.M. a chamou novamente para fazer fotos na praia e aceitou ir por
ser um lugar aberto. “Lá ele fez muito minha cabeça dizendo que eu tinha potencial, e que se ficasse com ele, ele poderia me levar longe, para crescer na minha carreira, e que todas as garotas que ele levou para o Miss tinham passado por isso, que eu poderia estar
perdendo uma chance que eu nunca mais teria. Eu acreditei nisso fielmente e voltei para o estúdio, deixei ele me tocar, porém não tive atos sexuais com ele. Depois desse dia eu nunca mais voltei para aquele estúdio”, lembra.
Venda de fotografias
As vítimas também relatam que suas fotos feitas por J.M. estavam sendo vendidas na internet, em especial, em um site chamado thepeopleimage.com. Boletins de ocorrências também estão sendo registrados denunciando essa prática.
De início a desconfiança era de que o site fosse estrangeiro e que pertencesse a uma rede internacional de pedofilia. Porém, foi constatado que o domínio já esteve registrado em nome de um fotógrafo de Balneário Camboriú, identificado por R.W., que já respondeu um processo por venda de pronografia infantil na internet.
O acusado alegou que tinha autorização dos pais e responsáveis das vítimas e que em todas as fotos as meninas estavam de roupa, se livrando assim da condenação, no ano de 2015. Mas as vítimas e seus responsáveis nunca tiveram conhecimento que essas fotos eram comercializadas, e também sequer sabiam que houve um processo que apurou essa prática.
O homem foi reconhecido pelas vítimas pelo codinome de Franchesco, um presenteador das modelos. Algumas relatam que o J.M. chegava com presentes e pedia para elas gravarem vídeos de biquini agradecendo Franchesco.
A Polícia Federal está investigando o caso e o Ministério Público averigua as denúncias.
Você foi vítima?
Registre a ocorrência
A orientação é que vítimas façam o boletim de ocorrência. Em Balneário Camboriú o B.O. pode ser feito na a Delegacia da Mulher de segunda a sexesta-feira, das 08h às 18h, e nos finais de semana e no período noturno na rua Inglaterra, número 115. Ou virtualmente neste link.
Procure ajuda emocional
O programa Abraço à Mulher está disponível e pronto para atender vítimas deste caso. Moradoras de Balneário Camboriú podem procurar o Centro de Inteligência Emocional Casa da Família, localizado na Rua 3.100, nº 876, ou via whatsapp ou ligação telefônica pelo número (47) 9 99821906.
Busque orientação
Para vítimas menores de idade, os pais ou responsáveis podem procurar a sede do conselho tutelar fica na rua 600 n. 271, no Centro, de Balneário Camboriú. Ou através do whatsapp 47 8883-7585. Os conselherios já estão a par do caso.