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Balneário Camboriú

Hostilização de jornalista no CPAC foi incitada por pré-candidatos de outros estados

Balneário Camboriú, destacada como capital conservadora, enfrenta comportamento hostil de visitantes externos

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Uma repórter da CNN Brasil, que cobria o maior evento conservador do mundo, o CPAC (Conferência de Ação Política Conservadora), foi hostilizada enquanto trabalhava no Expocentro de Balneário Camboriú. Curiosamente, apenas pré-candidatos da direita de cidades de outros estados participaram da hostilização, ostentando a situação como uma conquista em suas redes sociais.

Após cobrir o evento durante todo o sábado de maneira sóbria e coerente, o ato de censura contra a jornalista Isadora Aires, que estava devidamente credenciada para cobrir o evento, ocorreu no domingo pela manhã. Enquanto se preparava para entrar ao vivo, Isadora foi cercada por um grupo de participantes que gritavam: “Globo lixo”, “lixo, lixo” e “Globo aqui não”.

A situação foi transmitida pela live oficial do evento e comentada diversas vezes em tom irônico pelo apresentador do CPAC, Paulo Vitor Souza, que fez piadas e minimizou a gravidade da situação, afirmando que era “um petista” que tentava atrapalhar o evento, incentivando o público a lançar insultos. Posteriormente, ele tentou corrigir-se, mas de maneira igualmente irresponsável: “Eu recebi informação, e às vezes a gente comete erros, né pessoal? E eu quero aqui me retratar, pedir desculpa. Eu falei: ‘ah, a CNN’, falei petista, me desculpa, não é, me desculpa, era pior, era comunista, era uma repórter da Globo que estava aqui”, e, rindo, incitava o público a repetir os gritos de “Globo lixo”.

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Pré-candidatos lideram hostilização

Uma rápida análise da situação mostrou que nenhum político ou pré-candidato da direita de Balneário Camboriú atacou a jornalista. O único político local visto nos vídeos foi o vereador Victor Forte (PL), que foi flagrado rindo e falando com outro homem, mas que não hostilizou ou se manifestou contra a jornalista.

Por outro lado, pré-candidatos de outros estados foram os principais instigadores da hostilização. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram esses pré-candidatos ridicularizando e impedindo a jornalista de exercer sua profissão, ostentando a ação como algo correto e digno de um político conservador da direita.

Exibições nas Redes Sociais

Uma das imagens que mais rivalizaram foram as de Tati Magalhães, pré-candidata a vereadora pelo Partido Liberal (PL) de Niterói (RJ), onde ela divulgou um vídeo no qual se gabava de ter impedido a CNN de cobrir o evento. “CNN tentando gravar, não conseguiu gente, não vai conseguir, infelizmente não dá. O maior evento conservador da direita, querendo vir aqui gravar? Aqui não. Ih fora, ih fora. Botamos pra correr. Aqui não globo lixo, aqui não se cria, ”, ela narrava, enquanto a multidão continuava a hostilizar a repórter.

Diogo Barbosa, pré-candidato a vereador de Pinhais (PR), publicou um vídeo no meio da multidão dizendo: “Dia épico aqui no CPAC 2024, a Globo foi expulsa do evento por todo mundo”. Após a divulgação de um trecho do seu vídeo nas nossas redes sociais, ele comentou: “Eu no final do vídeo, CNN e Globo pra mim é tudo igual COMUNISTAS!! Se noticiassem a verdade seriam bem-vindos! Mas chegam e distorcem tudo. VAZA.”

Rony Gabriel, pré-candidato a vereador pelo Partido Liberal em Erechim (RS), postou um vídeo do momento em que Isadora foi expulsa, dizendo: “O pessoal está expulsando a Globo aqui e a CNN nesse momento, olha a quantidade de gente.” Além disso, Rony divulgou vídeos em restaurantes da cidade onde estava reunido com participantes do CPAC, cantando músicas contra o PT com a legenda: ‘Pra quem não sabe, todo restaurante em Santa Catarina é assim’. No vídeo, ele afirma: “Restaurante em Balneário Camboriú é mais ou menos assim, oh! Santa Catarina é top demais”, sugerindo que a cidade vive nesse ritmo 24 horas por dia.

Diego Biro, pré-candidato a vereador de Guarujá (SP) pelo Partido Liberal, também ostentou a situação em suas redes sociais: “A Globo, a CNN teve coragem de vir aqui no CPAC em Santa Catarina e já sabem o resultado, né!?” enquanto filmava a jornalista sendo expulsa.

Sidney Edipo, pré-candidato a vereador de Recife (PE), também divulgou imagens no meio da confusão: “Pessoal está protestando contra o pessoal da CNN aí, chamando de lixo, olha,” relatou Sidney enquanto gravava a hostilização de Isadora.

Balneário Camboriú terra sem lei?

Nesta semana, Balneário Camboriú foi destacada nacionalmente como a “capital conservadora” do Brasil. Nos últimos anos, a cidade tem sido palco de diversos eventos conservadores, como a Marcha para Jesus em 2022, que contou com a participação do então presidente Jair Messias Bolsonaro. Outro evento com a presença de Bolsonaro ocorreu pouco antes do segundo turno das eleições presidenciais. Em 2024, o ex-presidente Bolsonaro voltou à cidade em duas ocasiões, participando de um evento na Praia Central e frequentando restaurantes e eventos religiosos na região.

O que esses eventos têm em comum é que foram frequentados apenas por políticos da região e, em nenhuma das ocasiões, a imprensa foi hostilizada. Todos os eventos contaram com credenciamento de imprensa, e os jornalistas foram bem recebidos para trabalhar. Tradicionalmente, a imprensa sempre foi respeitada nos eventos de direita em Balneário Camboriú. Não existem relatos de que políticos ou pré-candidatos de direita tenham coagido ou hostilizado jornalistas; muito pelo contrário, eles são, em sua grande maioria, cordiais e acessíveis.

Contudo, o incidente no CPAC 2024, onde uma jornalista foi hostilizada por pré-candidatos de fora da cidade, levanta questões sobre a percepção externa de Balneário Camboriú. Será que a promoção da cidade como capital do conservadorismo deu aos visitantes a falsa impressão de que aqui todos podem agir sem respeito e educação? Esses pré-candidatos de fora parecem acreditar que todos em Balneário Camboriú odeiam e desrespeitam a imprensa, o que pode ter criado uma ilusão de que a cidade é uma terra sem lei, onde qualquer um pode fazer o que julga ser correto.

É importante ressaltar que Balneário Camboriú é uma cidade de gente ordeira, e que a verdadeira direita local não se manifesta dessa forma. A ausência de políticos locais nos atos de hostilização contra a jornalista demonstra que a comunidade conservadora da cidade mantém o respeito e a cordialidade com os profissionais de imprensa.

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