O termo militância digital tomou conta de Balneário Camboriú nesta sexta-feira, 11, após o vazamento de conversas do grupo de WhatsApp “Diretores e Coordenadores Juliana Pavan Prefeita”. A matéria divulgada pelo Click Camboriú mostra uma mobilização coordenada de servidores comissionados da Prefeitura para atacar uma publicação do vereador Jair Renan Bolsonaro (PL), que denunciava o reajuste da planta genérica de valores, que causará o aumento do IPTU.
Com 213 participantes, o grupo de WhatsApp inclui diretores, secretários, assessores e até a prefeita Juliana Pavan. As conversas revelam uma dinâmica de ordens diretas, acompanhadas de ameaças — algumas veladas, outras explícitas — de exoneração para quem não acatar os comandos do secretário da Casa Civil, Leandro Arthur Rodrigues da Silva, conhecido como Leandro Índio. É ele quem centraliza o comando e dita as regras dentro do grupo.
A indignação de Renan Bolsonaro
Ao tomar conhecimento das mensagens vazadas, Renan Bolsonaro (PL) reagiu nas redes sociais com críticas duras à gestão municipal:
“A prefeitura de Balneário Camboriú parece ter aprendido direitinho com o PT como montar uma tropa digital.”
MAVs à moda BC?
Renan comparou o comportamento do grupo de comissionados da prefeitura ao modelo usado por Militantes em Ambientes Virtuais (MAVs), popularizado pelo PT: “Lembra dos famosos MAVs do PT? Aquela galera treinada pra defender o partido nas redes, atacar adversários e abafar críticas? Pois é… a tática agora é local. Servidor público virando cabo eleitoral de rede social, com dinheiro do povo. Em vez de trabalhar pelo cidadão, estão criando uma bolha artificial de aplauso pro governo. E tudo isso pago com o nosso imposto.”
O que são MAVs?
A sigla MAVs — Militância em Ambientes Virtuais — ficou conhecida durante os governos petistas para se referir a grupos organizados que atuavam nas redes sociais com a missão de defender o partido, atacar adversários e proteger a imagem do governo.
Esse tipo de estrutura é geralmente associada a campanhas nacionais, partidos de grande porte e disputas em capitais. É incomum que esse modelo de atuação apareça em cidades médias como Balneário Camboriú, o que torna o episódio ainda mais atípico.
O termo ganhou repercussão nacional a partir de 2010, quando o PT formalizou núcleos de ativismo digital durante seu congresso nacional. Na época, chegou a circular um “Guia do Tuiteiro Petista”, com orientações claras sobre como agir politicamente nas redes sociais.

Sentiu o ataque em tempo real
Jair Renan Bolsonaro relata que percebeu a mobilização coordenada logo após publicar o vídeo criticando o reajuste do IPTU em Balneário Camboriú:
“Bastou a gente denunciar o aumento absurdo do IPTU, resultado da nova planta genérica de Balneário Camboriú, que os comentários começaram a pipocar… Comissionados, efetivos e até assessor invadindo as redes com deboche, ataque e defesa cega da gestão. E o objetivo é claro: calar a oposição e blindar o aumento de impostos.”
Ele também denunciou o uso da estrutura pública para intimidar opositores:
“Não é a primeira vez que essa estrutura se move. Agora, são seus assessores, diretores e secretários que assumem a linha de frente nas redes — pagos com o nosso dinheiro — pra tentar desqualificar quem está fazendo o que o povo espera: fiscalizar e defender a população. Isso não é engajamento. É máquina pública a serviço do constrangimento. Servidor público não pode virar militante digital de governo. Muito menos pra defender imposto mais caro pro cidadão.”

O que o vazamento do grupo revela?
Prints das conversas mostram que, em 2 de fevereiro, o secretário Leandro Índio iniciou uma discussão no grupo sobre um vídeo publicado por um vereador, que criticava os projetos enviados pela prefeita à Câmara para votação em sessão extraordinária. Apesar de começar dizendo que “não é para fazer guerrilha virtual”, Índio rapidamente assume o papel de instrutor, orientando os integrantes sobre quais argumentos deveriam ser usados nos comentários da publicação. O tom didático lembra um passo a passo: ele define o conteúdo, o tom e até a abordagem que os servidores deveriam adotar nas redes.



Embora Leandro Índio não cite diretamente o nome do vereador, suas mensagens fazem menções explícitas a Bolsonaro e ao Partido Liberal, o que deixa claro o direcionamento político das instruções. Em meio à conversa, Murilo Sodré, diretor da Divisão de Tecnologia da Informação da Secretaria de Governo, Inovação e Orçamento, compartilhou no grupo um link com o vídeo de Renan Bolsonaro, que naquele momento havia publicado um vídeo que denunciava ao que ele chamava de ‘pacotão da taxação’. O link do vídeo de Renan teve três reações ofensivas no grupo: emojis de vômito, fezes e enjoo, revelando o tom de desprezo e a adesão coordenada dos membros às orientações de ataque.



No encerramento do “lição de casa” direcionado aos cargos comissionados, o tom de Leandro “Índio” da Silva ainda era amistoso e colaborativo: “Contamos com os comentários e defesas de todos em ambos os vídeos.” No entanto, apenas cinco minutos depois, o discurso mudou drasticamente. Em tom de cobrança, o secretário criticou a omissão de aliados em momentos delicados: “Vejo muitos cargos comissionados divulgando vídeos positivos sobre as ações do governo quando podem capitalizar, mas tomam Doril quando têm de se posicionar de forma efetiva. Aí fica difícil.”
Além das instruções de Leandro Índio, as imagens revelam uma movimentação orquestrada entre os próprios comissionados. Em um dos prints, Leonardo Vieira orienta os membros do grupo a curtirem os comentários feitos por Moisés Willian Peixoto, diretor-geral da Secretaria de Obras, e por Cláudio Renato Kraus Júnior, diretor do Departamento de Fiscalização Fazendária, na publicação do vereador Renan Bolsonaro. Nossa equipe conferiu os comentários e constatou que, de fato, houve uma concentração expressiva de curtidas, evidenciando a mobilização coletiva para amplificar os ataques e dar visibilidade às mensagens favoráveis ao governo.
Cerca de uma hora e meia após Índio criticar no grupo que os comissionados “tomam Doril” quando precisam se posicionar, Ronaldo Camargo — diretor do Departamento de Governo Eletrônico e Inovação — publicou uma mensagem com tom inflamado, em uma tentativa evidente de provar seu valor ao secretário da Casa Civil, o diretor também deixou um comentario
Vários outros comentários de diretores e coordenadores da prefeitura de Balneário Camboriú foram encontrados na publicação de Renan. Confira:








“Decisão do gabinete via portaria”
Entre as mensagens vazadas do secretário da Casa Civil, Leandro “Índio” da Silva, uma se destaca pelo tom mais incisivo: “Então nós iremos resolver. Os compromissos da prefeita são os nossos compromissos. Precisamos de atitude e decisão. Quem não quiser decidir, receberá a decisão do gabinete via portaria.”
A fala pode ser interpretada como uma ameaça direta de exoneração. No serviço público, o termo “via portaria” se refere ao ato administrativo formal que oficializa nomeações ou desligamentos, publicado no Diário Oficial.
