A morte do recém-nascido Ragner Ramos Leitemperger, ocorrida na madrugada de sexta-feira (25) no Hospital Municipal Ruth Cardoso, reverberou de forma intensa na sessão desta terça-feira (29) da Câmara de Vereadores de Balneário Camboriú. O caso gerou comoção popular após a circulação de um vídeo nas redes sociais em que o pai da criança denuncia a ausência de atendimento médico adequado durante o parto da esposa. A tragédia também resultou na exoneração da então diretora-geral da unidade, Andressa Hadad, formalizada no dia 28 de abril por meio da Portaria nº 32.770/2025.
Na sessão, vereadores da base e da oposição se pronunciaram de forma contundente, pedindo apuração rigorosa, punições e revisão da gestão hospitalar. As falas também expuseram divergências políticas e lembraram denúncias anteriores que já vinham sendo ignoradas pela administração.
Críticas à ex-diretora e responsabilização pela tragédia
O vereador Marcelo Achutti (MDB) resgatou denúncias feitas desde março sobre supostas falhas de gestão, negligência médica, ausência de equipamentos e médicos atuando em condições inadequadas no hospital. Ele lembrou que Andressa Hadad foi convocada para prestar esclarecimentos na Câmara, mas nunca compareceu. “No dia 9 de abril levei um bolo à tribuna para simbolizar um mês de silêncio. No dia 25, tivemos um óbito. Não me arrependo”, afirmou. Para ele, a tragédia é consequência direta da omissão administrativa. Achutti também rebateu críticas feitas nas redes sociais pelo marido de Andressa, lembrando que foi ela quem homologou o contrato com a empresa responsável pelo setor obstétrico.
Apelo por comando e denúncia de “abandono no parto”
Mazinho Miranda (PRD) classificou a situação como “abandono no momento do parto”, citando o vídeo amplamente divulgado nas redes sociais. “A mãe estava sozinha em trabalho de parto, sem nenhum médico”, relatou. O parlamentar também cobrou firmeza da prefeita Juliana Pavan e denunciou a falta de comando no governo municipal. “A cidade precisa de gestão. Vamos sair do Instagram, do TikTok”, criticou.
Defesa da prefeita e da terceirização da saúde
Por outro lado, o vereador Anderson Santos (PL) defendeu a atuação da prefeita, afirmando que Juliana esteve no hospital, acolheu a família e autorizou o afastamento do médico e abertura de sindicância. Ele também defendeu a terceirização dos serviços de saúde, citando a UPA das Nações como exemplo de gestão eficiente.
Propostas legislativas e críticas à estrutura hospitalar
O vereador Ricardinho (PRD) propôs um projeto de lei que assegura às gestantes o direito de optar pela cesariana a partir da 37ª semana, com orientação médica. Segundo ele, o objetivo é garantir autonomia e evitar episódios de violência obstétrica. “Nada trará o bebê de volta, mas podemos evitar que outras mães passem por isso”, declarou.
Guilherme Cardoso (PL) solicitou uma auditoria nos contratos vigentes do hospital e reforçou que a complexidade da estrutura contratual dificulta a transparência. “Não é justo tratar esse caso com política. O cidadão precisa de atendimento digno”, disse.
Denúncia de falta de acolhimento à família
O vereador Jair Renan Bolsonaro (PL) foi enfático ao denunciar que a família do bebê não recebeu o suporte anunciado pela prefeitura. “É mentira que a prefeita deu amparo”, disse, relatando que o caixão foi providenciado por terceiros e que o nome da criança foi escrito à mão pelo pai.
Expectativa por sindicância e responsabilização
Todos os parlamentares cobraram celeridade na sindicância prometida pela prefeitura. A prefeita havia anunciado que um relatório seria apresentado em até 72 horas, prazo que, segundo os vereadores, já expirou. Também houve pedidos para que o Ministério Público e o CRM acompanhem o caso de perto.
A Câmara seguirá acompanhando o andamento das investigações e os desdobramentos administrativos no Hospital Ruth Cardoso, cuja gestão se tornou foco de críticas recorrentes e de apelos por reformulação estrutural e profissional. A morte do bebê Ragner se tornou símbolo de um sistema que, segundo os parlamentares, precisa de ação imediata para evitar novas tragédias.