A reação da prefeita Juliana Pavan (PSD) a piadas feitas pelo humorista Afonso Padilha gerou uma onda de tentativas de censura e cancelamento em Balneário Camboriú. Além de um vídeo institucional em que ela cobra “respeito” à cidade, a pressão política motivou o cancelamento do show do comediante no município e culminou na tentativa de aprovação de uma moção de repúdio na Câmara de Vereadores — proposta que acabou rejeitada após empate na votação.
Em vídeo publicado nas redes sociais, Padilha ironiza elementos populares da cidade:
“Balneário Camboriú, a terra da ostentação, né? A terra dos grandes prédios, dos carros de luxo, dos paus pequenos.”
“Você não pode entrar na água que senão você morre. Você dá dois mergulho e sai se cagando.”
Juliana rebateu as falas chamando-as de “absurdas” e “fake news”, afirmando que todos os pontos da Praia Central estariam próprios para banho e acusando o comediante de desrespeitar a cidade e as mulheres. Internautas, no entanto, apontaram contradição na postura da prefeita: no início do ano, ela aplaudiu publicamente a música “Nóis Vai Descer pra BC”, com letras que sexualizam as mulheres — e inclusive deu entrevista ao Fantástico exaltando a canção.
Pressão política cancela show em Balneário Camboriú
O show de Afonso Padilha, previsto para o dia 9 de maio, foi cancelado e transferido para Timbó. Segundo Guma Miranda, sócio da produtora responsável, o motivo foi a pressão e hostilidade nas redes sociais. “Ficou pesado e não é essa a ideia. A missão é levar alegria e arrecadar alimentos”, afirmou. Os ingressos estavam com boa venda, mas o clima de tensão fez a organização optar por cancelar o evento “por questões de saúde mental”.
Em conversa com a nossa equipe, Padilha, que há anos se apresenta na cidade, comentou:
“Eu adiei o show, mas em breve eu volto — e volto cheio de piadas.”
Tentativa de censura institucional fracassa na Câmara
A base da prefeita tentou institucionalizar o ataque com a Moção de Repúdio nº 155/2025, apresentada pelo vereador Elton Garcia (PSD). A proposta foi rejeitada na noite de terça-feira (22), após empate de 6 a 6 e decisão contrária do presidente da sessão, Vitor Forte (PL).
O debate no plenário expôs um esvaziamento estratégico da base governista: vereadores como Marcos Kurtz, Jade Martins, Bola Pereira, Anderson Santos e Arlindo Cruz evitaram votar. “Vazaram para não votar na moção do Padilha”, afirmou o vereador Guilherme Cardoso (PL), antes do início da discussão.
Apenas a vereadora Ciça Müller (PDT) defendeu a moção publicamente, chamando o conteúdo das piadas de machismo. Os demais vereadores se posicionaram contra, sob o argumento de que se tratava de uma manifestação artística ocorrida em ambiente privado e que não cabia à Câmara censurar conteúdo de stand-up comedy.
Vereadores reagem: “Liberdade de expressão não é pauta de governo”
O vereador Marcelo Achutti (MDB) destacou que o evento foi privado, pago, e não vinculado a verbas públicas. “Quem se sentiu ofendido, que entre com ação direta. A Câmara não é tribunal moral”, disse.
Mazinho Miranda (PRD) afirmou que a cidade tem problemas mais urgentes: “Estamos discutindo uma moção contra comediante enquanto a Emasa deixa buraco na rua e a Praia Central está no escuro.”
Guilherme Cardoso (PL) admitiu que inicialmente repudiou Padilha nas redes, mas voltou atrás após refletir: “Faltou coerência. Ninguém fez moção quando um agente público agrediu uma mulher. Agora, contra piada, querem usar a Câmara.”
Jair Renan Bolsonaro (PL) foi mais direto:
“Tudo é motivo de mimimi. A prefeita aplaudiu música que diz ‘os cowboys vão torar você’. Agora quer cancelar piada de palco?”
O vereador Naifer Neri (Novo) alertou que o Legislativo não pode assumir papel de censor:
“O melhor repúdio é o mercado. Quem não gosta, não consome. A Câmara não pode virar STF paralelo.”