Nessa semana vídeos e matérias sobre um acampamento de moradores de rua na praia Central, ao lado de canoas de pesca, ganharam as redes sociais e diversos veículos de comunicação. A situação foi amplamente divulgada como se tivesse ocorrendo algo muito errado.
Mas a realidade é que o local não é um acampamento de moradores de rua, como exposto de forma equivocada por parte da imprensa. O local é um ponto de pesca, o Pico da Canoa, que fica entre a rua 3700 e 3600. O ponto não tem um rancho fixo, e por esse motivo os pescadores são obrigados a trabalhar nessas condições. O ponto de pesca manteve uma espécie de tenda no local durante anos, que servia como um rancho improvisado, mas a prefeitura retirou a tenda durante o alargamento e nunca mais devolveu.
Isso foi mostrado através de um vídeo feito pela equipe do Camboriú News na tarde desta sexta-feira, 27 (vide abaixo). Porém, o vídeo levantou muitas questões e gerou muitos comentários de pessoas que não entendem como funciona a pesca artesanal.
Os principais comentários foram: “os pescadores não devem morar na praia”, “as canoas juntam muito andarilhos” e “não pode pescar na praia Central”. Mas o que pouca gente sabe é que toda a dificuldade que gira em torno da pesca artesanal é causada falta de ranchos fixos.
Os pescadores moram na praia?
Os moradores não moram na praia mas pelo fato de não terem um rancho para guardar as canoas, as redes e os equipamentos de pesca, eles são obrigados a ficar de vigia, para não virar alvo de furto ou vandalismo vandalismo, como já aconteceu com o rancho da 3800, quando uma rede de pesca que custa cerca de R$ 29 mil foi incendiada.
Se existisse um rancho no local, após o dia de pesca, tudo seria colocado dentro do rancho, que ficaria fechado e ninguém precisaria ficar cuidando do local. “Minha maior vontade é encerrar o dia ir pra casa tomar um banho e dormir. Ninguém quer ficar plantado na praia cuidando da canoa”, desabafou seu Luiz Wilbert, um pescador de 67 anos, que é o dono do Ponto da rua 3700.
As canoas juntam andarilhos?
Muitos moradores reclamam que as canoas de pesca juntam moradores de rua, porém isso só acontece pois não tem um rancho para guardar elas. Se existisse um rancho, as canoas ficariam dentro.
Novamente conversamos com seu Luiz e ele explicou que no local fica apenas o pessoal que cuida das canoas e aparatos de pesca, mas que ocasionalmente aparecem moradores de rua pedindo comida, ou se aproximam pra buscar abrigo pra dormir. Seu Luiz conta que fica de mãos atadas sobre esse problema social que Balneário Camboriú enfrenta e expressa o medo de sofrer represálias dos moradores de rua caso corra com eles quando eles se aproximam das canoas. “Eu não posso correr com os moradores de rua, porque se eu corro com eles hoje, amanhã eles vem e queimam minhas redes de pesca como fizeram no final do ano passado, eu lido com pesca, não com moradores de rua, isso é trabalho da prefeitura”.
Conversamos com a abordagem social de Balneário Camboriú para saber se foram averiguar essas denuncias sobre esse ponto da praia ter virado acampamento de moradores de rua e a resposta que recebemos foi a equipe da abordagem social foi até o local e não encontraram moradores de rua, no local só haviam pescadores que foram orientados a manter o local o mais organizado possível.
Não pode pescar na praia Central?
Atualmente a Praia Central de Balneário Camboriú possui quatro pontos de pesca com licença da canoa e de pesca no órgão federal, porém apenas três deles estão ativos, sendo eles: O rancho da rua 3700, da Canoa Anita W, o Rancho da rua 4100, da Canoa Selma, e o Rancho da rua 3100, da Canoa Espada. Cada canoa é licenciada a ser usada exatamente nesses pontos da praia, onde os pescadores tem o direito de exercer sua atividade.
Luta pelos ranchos fixos
Diferente da realidade das praias de Taquaras, Estaleirinho e Estaleiro possuem ranchos permanentes, os pescadores da Praia Central, da praia do Pinho e da praia de Taquarinhas não possuem ranchos fixos. Eles recebem tendas da prefeitura durante a safra da tainha, que acontece do dia 1º de maio ao dia 31 de julho. Fora esse período os pescadores não tem direito a ter um local para se abrigar e guardar os equipamentos de pesca.
Uma controvérsia entre os pescadores e a equipe da prefeitura de Balneário Camboriú, ocorrida no dia 19 de junho, na praia do Pinho, trouxe à tona a situação da pesca artesanal na cidade. Ao ter conhecimento dessa situação, a equipe de reportagem do Camboriú News embarcou em uma jornada investigativa para compreender essa e outras demandas relacionadas à pesca artesanal onde encontramos uma discrepância entre as condições de trabalho nas praias com ranchos de pesca fixos e aquelas que não possuem essa estrutura e não recebem apoio governamental para sua instalação.
Os pescadores vem há tempos tentando montar um plano de trabalho com a prefeitura, a fim de regularizar e estabelecer um espaço adequado para os pescadores artesanais exercerem sua atividade de forma digna, mas dizem que só recebem visitas e promessas.
Projeto de Lei pelos Ranchos
Hoje, existe um projeto de lei para reconhecer os Ranchos de Pesca e Maricultura Tradicionais da cidade como parte do Patrimônio Cultural Material de Balneário Camboriú. Além disso, o PL visa facilitar a regularização dos ranchos já existentes junto aos órgãos competentes. Além disso, o projeto busca estabelecer padrões e regulamentações para a construção de novos ranchos, garantindo que essas estruturas tenham um caráter permanente, permanecendo o ano inteiro nos locais originais.
O projeto é de autoria do vereador Anderson Santos (Podemos), com o apoio de diversos outros vereadores, incluindo Alessandro Teco (Republicanos), Danielle Eloisa Serpa (PSD), David LaBarrica (PATRIOTA), Gelson Rodrigues (CIDADANIA), João Olindino Koeddermann Filho (MDB), Juliethe Nitz (PL), Nilson Probst (MDB) e Victor Forte (PL). A união desses legisladores demonstra a relevância da preservação e reconhecimento dos Ranchos de Pesca e Maricultura Tradicionais para a comunidade de Balneário Camboriú.